O entrevistado desta edição é José Maurício Andreta Júnior, novo presidente da Fenabrave para a gestão 2022/2024. Formado em direito, o empresário de 67 anos é líder do Grupo Andreta, que representa 10 marcas (Fiat, Chevrolet, Ford, Volkswagen, Peugeot, Renault, Hyundai Imports, Hyundai do Brasil, Volvo e Chery), é composto por 28 concessionárias no interior de São Paulo e emprega mais de 1.000 funcionários.
Na vida associativa, Andreta Jr. foi Presidente da Abracaf (Associação Brasileira dos Concessionários de Automóveis Fiat – 1993-1994), participando, até hoje, do Conselho de Ex-Presidentes da entidade e, neste período, membro do Conselho Deliberativo da Fenabrave.
Ele também atuou como Vice- Presidente da Fenabrave em dois períodos (1994-2005 e 2015-2021), participou da Diretoria da Abrac (Associação Brasileira dos Concessionários Chevrolet – 2003-2004), do Conselho Nacional da Abracop (Associação Brasileira de Concessionários Peugeot – 2002/2021) e do Conselho Nacional da Abrahy (Associação Brasileira dos Concessionários Hyundai – 2013-2017), além de ter sido diretor do SINCODIV-SP (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo – 1998-2016).
Nesta entrevista exclusiva, Andreta Jr. fala sobre as projeções para este ano, faz previsão para o setor de duas rodas e avalia o que é preciso para vender mais motos. Acompanhe!
ABRACY – As projeções da Fenabrave para este ano apontam para um tímido crescimento de 5,2%, para todo o setor. Por que, se os emplacamentos cresceram 10,5% em 2021?
José Maurício Andreta Jr.: Se considerarmos que a expectativa do PIB Nacional, para 2022, é de zero, a projeção de um crescimento de mais de 5%, para o nosso setor, considerando que a produção ainda não está normalizada, é uma ótima notícia. Temos que considerar que, além de uma expectativa baixa para o PIB, estamos num ano de eleições, que nos traz incertezas, e também diante de altas nas taxas de juros, que impactam nos financiamentos. Todos esses fatores influenciam para que o crescimento não seja maior. No entanto, se tivermos novidades positivas, essas projeções podem mudar. Por esta razão, a Fenabrave realiza revisões a cada trimestre.
Qual é a previsão da Fenabrave para o setor de duas rodas em 2022?
As projeções apontam para um crescimento de 6,2% em 2022, sobre 2021, devendo alcançar quase 1.230.000 motocicletas emplacadas no mercado interno.
Há uma demanda alta por motos no mercado brasileiro, como o concessionário deve aproveitar este momento?
Existe, de fato, um aumento de demanda que surgiu na pandemia, com o crescimento dos serviços de delivery, a intenção de substituir o transporte coletivo por um individual (para evitar aglomerações) e, também, em função da queda na renda per capita e do aumento dos preços dos combustíveis, algumas pessoas passaram a substituir o automóvel pela motocicleta, cujo custo é menor.
Em função da falta de produtos, em razão da crise de abastecimento global, sugiro que os concessionários aproveitem para oferecer alternativas, a seus clientes, pois é possível que não tenham, em estoque, a moto desejada pelo cliente, mas poderá haver outra, que lhe atenda. Não perder oportunidades de negócio e melhorar, sempre, o pós-vendas, são ações que devem ser permanentes por parte das Concessionárias.
O que é preciso para vender ainda mais motocicletas?
Costumamos avaliar que a comercialização de motocicletas, principalmente, as de até 250 cilindradas, está, diretamente, atrelada à renda. Se existe renda, o mercado se aquece. No entanto, estamos diante de novas variáveis, como a falta de semicondutores e problemas de logística, que têm afetado a produção e, consequentemente, os estoques das Concessionárias.
Com isso, muitas vezes, existe a demanda, mas não há produtos suficientes no mercado para atendê-la, uma situação vivenciada em 2021 e que vem, aos poucos, melhorando.
A alta nas taxas de juros também está deixando o crédito mais restrito. Atualmente, as taxas de aprovação cadastral, para os financiamentos de motos, de até 250 cilindradas, estão em 35%, na média.
Como grande empresário e especialista em vendas no varejo, qual é a sua opinião para o mercado de distribuição?
O mercado está em constante evolução e, pelo que estamos vivendo, nos últimos tempos, tanto no Brasil como no mundo, teremos muitas transformações nos próximos anos. O nosso modelo de negócio tende a evoluir, conforme o perfil do mercado, e devemos estar preparados para fazer parte dessas mudanças, que nos imporão ofertar muito mais serviços de mobilidade, com mais tecnologia e conectividade aplicada, e não apenas atuar na compra, venda e reparação de veículos.
Existe alguma nova crise que possa prejudicar as vendas? Ou o pior já passou?
Já superamos diversas crises e estamos confiantes de que, se nenhum imprevisto ocorrer, teremos uma recuperação gradativa, porém, consistente, nos próximos anos, até chegarmos aos patamares de antes da crise, talvez entre os anos de 2025 e 2027.
Vivemos nossos melhores anos em 2011 e 2012 e fomos abalados, brutalmente, pela crise entre os anos de 2015 a 2017. E, desde 2020, passamos por mais uma, em função da pandemia do Coronavírus, que impactou, de forma importante, a economia mundial e, claro, também o nosso País e o nosso setor.
Com todas essas crises, aprendemos que somos resilientes e capazes de superar o que vier pela frente, desde que tenhamos a gestão, a agilidade e a estrutura necessárias para isso.
Como novo presidente da Fenabrave para o triênio 2022-2024, quais os desafios que pretende vencer?
Pretendo fazer parte de uma liderança coesa e ativa, atuando em conjunto com a Diretoria Executiva e com os Presidentes de Associações de Marca, Regionais e Sincodiv’s, em defesa e em prol de todos os segmentos automotivos que formam o nosso setor. Desafios existem e existirão sempre, de diversas fontes e origens. Seja na economia, no perfil de mercado, nos sistemas de comercialização, enfim, nosso objetivo é vencer desafios, em qualquer cenário!
Qual será o grande objetivo da sua gestão?
Estamos iniciando um triênio que se encerrará em 2024 e, conforme o meu compromisso eleitoral, farei uma gestão participativa. Por isso, iniciei o mês de janeiro de 2022 promovendo reuniões, com todas as Associações de Marca, de todos os segmentos automotivos, incluindo a Abracy, para que essas direcionem quais são as prioridades e as ações de maior interesse, que devem merecer a atenção e o foco da Fenabrave.
Atuaremos em prol do setor e mediante as diretrizes das nossas lideranças, que são as nossas Associações filiadas, as quais esperamos que não apenas participem da formulação do Planejamento Estratégico, mas, também, da sua execução, no cotidiano da nossa Federação. Formaremos Comissões e Grupos de Trabalho que, espero, possam contar com a atuação ativa desses líderes. Só assim venceremos! Entendo essa gestão como uma corrida de revezamento, onde cada um passa o bastão ao próximo e que, para vencer, todos devem manter-se no mesmo ritmo e atividade constante.
Como a Fenabrave pode auxiliar ainda mais os concessionários de moto?
A FENABRAVE sempre ofereceu e continuará oferecendo todas as ferramentas, tanto políticas quanto empresariais, para que o Setor, como um todo, prospere no mercado. Mantemos contato com todas as esferas governamentais e participamos, ativamente, das decisões que impactam nosso mercado, pois somos uma categoria econômica respeitada por gerar, diretamente, mais de 300 mil empregos e por responder por 4,26% do PIB Nacional, estando presentes em mais de 1.000 municípios.
Realizamos estudos sobre o futuro do nosso negócio, lutamos por melhorias na legislação que afeta o Setor, apoiamos nossas lideranças em pleitos comuns e legítimos, dando suporte espetacular, por meio do maravilhoso corpo de colaboradores e assessores que nossa Federação tem e que tive a satisfação de herdar do amigo Alarico Assumpção Júnior, que me antecedeu na Presidência da FENABRAVE e fez um excelente trabalho, em diversos sentidos.
Dar continuidade a um trabalho bem feito é melhor, embora não seja mais fácil, pois, sempre, assumimos o compromisso de galgar novos e melhores patamares a cada ano e nossa Federação completará 57 anos em 2022! Ou seja, há muitos desafios a enfrentar para que possamos continuar mantendo novas e importantes conquistas ao Setor.
Você sempre foi um apaixonado por motocicletas. Ainda curte os passeios sobre duas rodas?
Sou um apaixonado por moto e sempre gostei muito de fazer passeios, principalmente, aos finais de semana. Atualmente, não tenho tido muita oportunidade, em função dos compromissos e negócios, mas continuo um admirador!
Ainda como motociclista, quais conselhos você daria para pilotar com segurança?
Segurança pressupõe capacitação, prudência, perícia e equipamentos. Ter a CNH apropriada e estar habilitado a pilotar uma moto são os primeiros passos. A perícia, a cautela – que impede a imprudência – e a utilização de todos os itens de segurança, como capacetes e roupas apropriadas são outros pontos, sem falar da necessária revisão periódica na motocicleta, que deve estar, sempre, em perfeitas condições de uso.